terça-feira, abril 26, 2005

Via del Campo

Via del Campo c'è una graziosa
gli occhi grandi color di foglia
tutta notte sta sulla soglia
vende a tutti la stessa rosa.

Via del Campo c'è una bambina
con le labbra color rugiada
gli occhi grigi come la strada
nascon fiori dove cammina.

Via del Campo c'è una puttana
gli occhi grandi color di foglia
se di amarla ti vien la voglia
basta prenderla per la mano

e ti sembra di andar lontano
lei ti guarda con un sorriso
non credevi che il paradiso
fosse solo lì al primo piano.

Via del Campo ci va un illuso
a pregarla di maritare
a vederla salir le scale
fino a quando il balcone ha chiuso.

Ama e ridi se amor risponde
piangi forte se non ti sente
dai diamanti non nasce niente
dal letame nascono i fior
dai diamanti non nasce niente
dal letame nascono i fior.


Fabrizio de André

segunda-feira, abril 25, 2005

Ao meu platónico amor

Pediste-me que te escrevesse um texto, mas as palavras são demasiado vagas e vazias para dar conta do meu eterno bem querer...
Ao invés dar-te-ei, mais uma vez, a certeza dos meus sentimentos e da minha lembrança, a ti que tantas vezes me adormeceste no teu colo.
Suportas estoicamente todas as minhas paixões, incitas-me até a vivê-las sofregamente, mas é a ti que recolho a minha dor quando me sinto só!
Dá-me força saber que sempre te encontrarei, ainda que nos afaste a distância, e que o teu ombro será sempre altivo e pronto a secar o mar que brota da minha alma...
Conheces-me como ninguém, e a ti serei eternamente grata por gostares assim...
A ti, meu melhor amigo, ofereço o que de melhor tenho, o furacão de mim mesma!

O sonho da realidade...

sexta-feira, abril 22, 2005

Início

Sinto-me lavada de mim, de pecados antigos caídos no eterno esquecimento. Absolvida pela benção das chuvas que não caíram...
Acordo para o Tudo, imagino-o, tento agarrá-lo com mãos de criança, as únicas que têm o poder de agarrar os sonhos!
Estou farta de sobreviver no perene hoje, quotidiano nosso.... Basta!
Voltei, decidi-me a voltar, para viver, uma outra e outra vez, no Mundo do Acreditar. Viva a Utopia, viva!
Espero contar convosco, que sempre me acompanharam, que me ajudaram a crescer neste planeta das mil uma cores, a prometer mil e uma eternas noites e outros tantos dias!
Vós continuareis a ser o receptáculo bendito, o Santo Graal, do meu mundo, onde sorverei de um trago o sangue do universo.
Benditos vós meus amigos, bendita providência que vos manteve a meu lado, apesar das distâncias geográficas!
Sereis o meu eterno sustentáculo, pequeno banco onde eu me empoleirarei para espreitar a face escondida da Terra...

quinta-feira, abril 21, 2005

O eterno Eu no Outro...

Sinto-me, sinto-te, não me sinto...
Quero-me, quero-te, não me quero...
Transformo-me, transformo-te, não me transformo...
Desejo-me, desejo-te, não me desejo...
Fujo, foges, não consigo fugir...
Mudo-me, mudas, não me consigo mudar...
Tenho-me, não te tenho, acho que não te/me quero ter...
Porque será que só nos conseguimos rever no olhar exterior? Pior... Porque será que só conseguimos ver o outro como desejaríamos que ele fosse? Muito pior... Porque desejamos que o outro seja apenas e só aquilo que nós desejaríamos ser? Pior de tudo... Porque só vemos o que queremos ver!...

Acto de contrição

Como estás?
Tive saudades tuas, fizeste-me falta na verdade... O que eu imaginei voltar a tocar-te, sentir-te, entrelaçar meus dedos nos teus pêlos do peito... Sabes que já tens alguns brancos, e que ganhaste outros tantos na minha ausência?
Revejo-me no meu passado, ele persegue-me como uma sombra que nunca consigo despir, e olha que eu bem tento, com todas as minhas forças, mas és demasiado persistente, insistente... E eu... Eu sou demasiado fraca, ainda me tremem os joelhos como da primeira vez, quando tive de me apoiar na janela do carro para não cair. Tu não percebeste, eu surpreendi-me com a minha frágil, demasiado frágil, humanidade!
Os teus beijos ainda me marcam a pele, e as tuas mãos, Deus, são demasiado grandes para mim, desejam agarrar tudo, o Mundo, o inatingível... E eu, eu gosto tanto que elas me palpem com sofreguidão, essa mesma que só os mais secretos e eternos amantes conhecem...
Estou a ser demasiado sentimental?
Bem... Talvez não saibas, mas eu sou assim, sempre fui assim, debaixo da carapaça protectora de tartaruga amedrontada, solitária, estou eu, a fingir-me gente grande, invencível, qual Sansão. Mas eu nunca tive tranças...
Quero continuar a procurar-te, a sentir as tuas carícias no meu colo, ruborizando o ebúrneo, sentir a tua transpiração, a tua respiração, o entrelaçar de mãos, corpos nossos e línguas nunca estranhas...
Humores trocados, pecados perdoados!
Procuro-te noutros corpos, não consigo, faltas-me tu!
Que faço? Tenho medo, de sentir, de viver o dia nosso, não me quero iludir mais!
Estou ferida ainda, sinto-me só. E tu? Tu fazes-me falta...

quarta-feira, abril 20, 2005

Lamentação a um futuro já passado

Vivo no meu mundo, situado num país sem esperanças, sem pessoas nos lugares certos, com Pessoas nos lugares errados...
Vivo num país triste à espera de um rei que nunca volta, envolto numa manhã de nevoeiro, como são todas as manhãs do meu povo...
Vivo num país do ontem, que insiste em não fazer passado do futuro, mas ao contrário, teima em viver um futuro cinzento mergulhado num passado que já não volta, e que nunca foi tão dourado como sempre quiseram fazer crer...
Vivo na esperança de que algo aconteça...
Temo que a montanha venha a parir um nado-morto...
Vivo a perguntar-me que foi feito da lusitana praia, do jardim das Hespérides onde os pomos de ouro brilham e prometem a eternidade...
Ulisses que fizeste tu? Olissipo sobrevive e com ela sobreviverei eu, na vã esperança de ser apenas o Velho do Restelo!

terça-feira, abril 19, 2005

De amores e sal

Estou a romper o útero da existência, da minha, da de todos, do mundo.
Pretendo navegar por mares já antes navegados, conhecidos por todos, tocados só pelos pobres de espírito, os tais que entrarão no reino dos céus.
Escreverei o vosso nome na espuma do mar, e a vossa presença lamberá as feridas estampadas nas areias da eternidade... Guardar-vos-ei na minha casca de noz, a tal que comigo ao leme, me guiará nas tormentas dos passados futuros, sereis a minha vela, o vosso espírito o meu mastro!
Pretendo soltar amarras e ir ao encontro do eu primordial para depois entregar em consciência o meu óbolo a Caronte, e dizer-lhe, olhando-o bem nos olhos, que zarpe e me leve o quanto antes, pois eu vivi infinitamente na perenidade do vosso olhar, e isso basta-me. Serei então feliz!

segunda-feira, abril 18, 2005

Adeus amigos meus...

Olho ao espelho e não me reconheço, é-me devolvida uma imagem distorcida de alguém que se parece comigo mas não sou eu, quem será não sei...
Vivo num mundo de aparências, ilusões, feito com imagens distantes, oníricas. A música que se houve não é a apropriada para a ocasião e os rouxinóis definharam todos, repousando em ramos de árvores velhas, carcomidas pelo tempo, corroídas pelos humores libidinosos dos dias que se seguem dolentemente uns aos outros, em fila indiana, sem sonhos, sem perspectivas, sem revolta contra a tirania do universo...
Danço num deserto, com um longo vestido de organza de saia rodada e pintado com as cores do arco-íris. Procuro em vão o principezinho, mas só encontro o nada e teimo em ouvir ao longe o doce sibilar da serpente, a areia escalda e os pés teimam em não avançar, rodopio, rodopio, e rodopio, sobre mim mesma...
Tento confundir-me com a paisagem, ascender ao nirvana, mas só consigo traçar um circulo no chão, e nem mesmos os círculos são perfeitos, nunca são...
Não sei quem sou, não me reconheço e a areia escalda.
Como uma cobra, estou a mudar a pele, sinto-o...
Não sei para onde vou, não sei onde fico. Será ainda rubro o meu sangue, ou aquilo que me corre nas veias é já o doce veneno que teima em me acariciar a pele, pedindo insistentemente transformações?
Carta de tarot, a morte, o renascimento, a ruptura, o (re)começo.
Não sei onde estou, quem fui já não sou mais!
Onde estás tu Fernão Capelo Gaivota?!?

A verdade suprema

"... porque é certo que escrevemos para que nos amem mais"
Alfredo Bryce Echenique