segunda-feira, agosto 29, 2005

40000 de nós...

Somos essencialmente números...
Números e mais números em listas intermináveis...
E eu andei de mão dada na eterna burocracia com mais 39999 iguais a mim...

quinta-feira, agosto 18, 2005

Voos picados

Há certas alturas durante toda uma vida em que nos obrigamos a ser verdadeiros kamikaze, fazemos voos picados em direcção ao chão, uma e outra vez até termos a certeza que nos matámos por completo, não deixando moribundo nenhum sonho, nenhuma crença, nenhum sentimento. Depois, resta-nos esperar que das cinzas voltemos ao reino dos que vivem, sonham e sentem, outra vez...
O processo é sobejamente conhecido, tem um numero infinito de almas de existência, mas mesmo assim continua a ser tão doloroso...
Rasgam-se as carnes do sentir! Delicera-se a alma! Dói tanto!...
Acabou! Morri!

Silêncios

Há silêncios ensurdecedores, mais parecem gritos cortantes de tão agúdos...
E eu que não sei lidar com eles, nunca soube de resto!
Os do telefone são os piores, mas todos os outros vão matando a pouco e pouco, surda e lenta tortura...
Também há dos outros, os que dizem tudo, revelam segredos, sentidos de alma, o conhecimento profundo do outro, destes tenho saudades... Tempos passados!
Se calhar, todos dizem algo e o silêncio mais não é do que uma mensagem nítida, lenta e certeira. Mas, este... este eu não sei ler, confunde-me, amedronta-me, angustia até ao âmago...
E eu que não sei lidar com ele...

quarta-feira, agosto 17, 2005

Cordame

Uma corda é formada por mil fios que se entrelaçam e enlaçam numa dança contínua de força, suavidade e durabilidade. Têm um objectivo comum, a resistência contínua ao tempo, às intempéries...
Quando um parte, outro segue o mesmo caminho, e outro, e outro... Resta um último, bastião do sonho, que tal como ele se torna tenso e a resistência pouco a pouco tende a ser quebrada, desse fio já só resta a fibra que segura a ilusão, e tal como ela tende a ficar tensa...
Chega o momento da exaustão, do cansaço, do não conseguir mais, do não querer insistir, aguentar, mais...
Chegou o momento da quebra final e a fibra, outrora fio, outrora corda, perde o seu sentido e deixa-o cair perdido no abismo da impossibilidade, purgatório dos outrora entrelaçados... Chegou o momento do estertor final, da quebra do silêncio e do cansaço eterno... Chegou o momento de deixar partir, de morrer...
Morreu...

segunda-feira, agosto 15, 2005

Epifania

Ontem assisti ao fabuloso concerto dos U2.
Uma experiência espectacular já que, como ando parca em matéria monetária, tive a possibilidade de trabalhar na estrutura montada para o evento e assistir na integra ao concerto do grupo.
Mas, não é pela experiência, válida sem dúvida, que escrevo, antes por ter sentido que talvez ainda haja esperança para este mundo moribundo. Talvez as novas gerações possam mesmo vir a ser novas, plenas de um brio novo.
Não falo pelas palavras de Bono, nem pelas músicas apresentadas, mas pelos minutos em que milhares de jovens e eternos jovens bateram palmas em silêncio ruidoso de mãos a bater enquanto no ecrã desfilavam os artigos da carta dos Direitos Humanos...
Talvez ainda haja lugar para acreditar! Talvez...

quinta-feira, agosto 11, 2005

terça-feira, agosto 09, 2005

Coisas que ficam por dizer...

Sabes? Sabe bem sentir a tua preocupação... Aconchega o ego e a alma - sorrio -, dá-me forças para acreditar.
Há coisas que se pensam, outras que não se dizem - frequentemente as mais acertadas - e outras que se omitem e não se devia, mas apenas porque as sentimos e raramente as conseguimos verbalizar, inclusive para os nossos próprios botões. Essas são as mais verdadeiras porque fogem a todas as lógicas - desde logo à do sujeito que as não consegue ordenar nem explicar - são as mais puras e as únicas salvas do naufrágio em que se torna a consciência quando misturada com a razão.
Provas? Testes? Mania estúpida de nos orientarmos... Mas como vivemos em terra de cegos sem esperança de encontrar quem consiga olhar para lá, cá nos vamos tentando guiar através daquilo a que chamamos experiência, isto é, a lição que nos obrigamos a tirar, para fazermos parte da raça (des)humana em que teimamos em nos incluir para não sofrermos as humilhações de fazermos parte dos outros...
A verdade é que os testes não são destinados a ti especificamente, isto é, são, mas não são, passo a explicar a ilusão de mim: testo-te a ti, como o faço a mim própria todos os dias e como faria caso não fosses tu, mas um X, um Y, ou um H qualquer.
As razões que tenho para te testar são as mesmas que utilizaria para testar um outro sujeito.
Culpada a minha inesgotável insegurança e culpa maior a do espaço vivido por mim desde o dia em que nasci até hoje.
Arrasto comigo os escolhos de todos os naufrágios que sofri e em que fiz sofrer, espero que faças o mesmo de resto, porque no final só nos resta isso, a súmula de naufrágios vividos, os escolhos e nós!
Acredita! A ti não te imputo uma carga maior do que eu própria, o acaso e o que há-de vir... Não te vejo como uma Fénix, renascido das cinzas do passado, esse já foi catalogado, armazenado, digerido.
Agora és novo, capítulo de livro a cheirar a novo, de folha branca. Tens, portanto, uma carga maior, o teste do que há-de vir, do que poderá acontecer, do que poderá não existir, do acreditar, esperar, insistir, mas sobretudo da incerteza por enquanto.
És um ser novo, visto pela primeira vez, resgatado de todas as lógicas!

domingo, agosto 07, 2005

Invitro

Cansada, exausta!
Parece que lá fora tudo gira, tudo se move, principia e termina - como deve ser, como tem de ser - e eu cá dentro a remoer dores antigas, medos eternos...
E esta dor de estômago que não me deixa!
Sufoco na minha imagem exangue que teima em submergir de um cenário que me parece dantesco. Apetece-me chorar, rasgar as entranhas do devir, esmurrar o mundo no nariz.
Mas, limito-me a me aquietar nesta sórdida ansiedade e a sentir-me cada vez mais só... Só no meio de um milhão de pessoas e a sentir a falta de apenas uma, ironia suprema!
Tudo me foge - na verdade até eu fugiria de mim própria neste momento se pudesse – mas, ao invés, prendo-me cada vez mais neste ultimato da não vida, da não existência, em que tive o infeliz acaso de me enlear.
As parcas escolhas que me foram permitidas estão a ter um preço superior ao habitual - ao indicado no preçário da existência -. Não sei se tenho trocos suficientes nos fundilhos para me libertar das sensações!
" Ter uma vida" é diferente de estar "vivo"!
E esta dor de estômago que não me larga...

sábado, agosto 06, 2005

Rosa de sangue e mentira

A "necessidade" que não era necessária.
A cruel mentira escrita com sangue...

La canción desesperada

Emerge tu recuerdo de la noche en que estoy.
El río anuda al mar su lamento obstinado.
Abandonado como los muelles en el alba.
Es la hora de partir, oh abandonado!


Sobre mi corazón llueven frías corolas.

Oh sentina de escombros, feroz cueva de náufragos!


En ti se acumularon las guerras y los vuelos.

De ti alzaron las alas los pájaros del canto.


Todo te lo tragaste, como la lejanía.

Como el mar, como el tiempo. Todo en ti fue naufragio !
Era la alegre hora del asalto y el beso.
La hora del estupor que ardía como un faro.


Ansiedad de piloto, furia de buzo ciego,

turbia embriaguez de amor, todo en ti fue naufragio!


En la infancia de niebla mi alma alada y herida.

Descubridor perdido, todo en ti fue naufragio!


Es la hora de partir, la dura y fría hora

que la noche sujeta a todo horario.


El cinturón ruidoso del mar ciñe la costa.
Surgen frías estrellas, emigran negros pájaros.


Abandonado como los muelles en el alba.

Sólo la sombra trémula se retuerce en mis manos.


¡Ah más allá de todo! ¡Ah más allá de todo!
Es la hora de partir .¡Oh abandonado!

Pablo Neruda

quinta-feira, agosto 04, 2005

Pesos pesados

Realidade, realidade, realidade... Maldita sejas que me confrontas comigo mesma!
O dia pesa, está abafado, parado e sufoca... E eu? Eu... Sufoco sob a minha imagem reflectida no espelho das desilusões.
Os fantasmas teimam em dançar à minha volta circundando-me com imagens de insucesso... E eu... Escondo-me atrás de um qualquer doce, fechando os olhos aos problemas e à balança, deixando as culpas para o fim da degustação, da vida...
Tudo me pesa, tu e eu própria, e a minha incapacidade da lidar com tudo, comigo, é a mais pesada de todos!
Culpada, culpada, culpada, com sabor a caramelo, a chocolate, a doce de leite...