domingo, setembro 24, 2006

Senhora de Sua Graça

Amiga,


Hoje, ao espalhares os pós suaves da maquilhagem e depois de apertares, um por um, todos os botões do teu encanto, mais não terás feito do que confirmar a fragilidade resistente da garça e a coragem destemida da leoa que em ti se concentram.
No teu regaço aninhar-se-à a esperança sublime de quem se tem a si por leal guerreira, apostada em desafiar todos os futuros, de todas as vidas.
Hoje, acompanhar-te-ão: o companheiro que escolheste para a vida, o desejo de um início puro e infinito como uma folha do mais branco papel, escrita pela mais cândida e suave pena, e a certeza da minha amizade contemplativa e eufórica.
A teia de seda que agora começas a tecer terá muitos fios de muitas cores e em todos eles ofereço-me eu, silenciosa vigilante, para te prestar o meu cuidado, desejosa de te ver senhora e dona do mais belo manto.
Dos momentos sublimes que este seja apenas um, mais um, a contar para a história.



De mim o melhor para ti.

terça-feira, setembro 19, 2006

Sobre Clarissa

Clarissa não gosta de se ver ao espelho… A imagem que ele lhe devolve envolve-a num misto de repugnância e de incredulidade, assalta-a o desejo de ser etérea, de fazer a sua massa corporal desaparecer como que por magia e com ela todos os problemas que dia após dia lhe fazem companhia ao deitar e ao acordar.
Não gosta de comprar roupa, não gosta de sair, não gosta de estar, adoraria poder-se esconder eternamente num qualquer lugar, longe da vista de todos, onde tivesse apenas por companhia um livro…
Clarissa não sabe que fazer de si, apenas tem como certeza a vontade de fugir, para muito longe, para um lugar também ele etéreo onde pudesse enfim banhar-se em água pura, símbolo de renascimento.

Segurança nenhuma, desafios, muitos, vontade e força para travar batalhas, a fraquejar cada vez mais, e aquele extenuante cansaço corporal para afoguear a alma e os movimentos cada vez mais lentos...