domingo, dezembro 18, 2005

A culpa é do Lontra

Noite de sábado, a anteceder a noite de Natal, os amigos encontram-se e contam-se as contas ao ano que passa. Pesado, demasiado pesado para todos, quase 360 dias para esquecer, o mais rapidamente possível, preferivelmente no espaço do segundo que nos transportará de ano...
Mais ou menos nos mesmos tempos, fez-se, desfez-se, chorou-se, criou-se, e só se teima em levar para o ano que vem a esperança de tempos melhores e a certeza de que parte do pouco saldo positivo deve-se a cada um de nós que fomentou carinhosamente a ligação entre todos, com altos e baixos, arrufos humanos, mas força presente e muito sentida nas horas de maior aflição das almas...
Desejos? Muitos por cumprir, um que se prometeu ir cumprindo, encontrarmo-nos mais vezes no espaço e no tempo, porque na mente está-se sempre presente...
A culpa descobriu-se... Foi do Lontra... E tudo aconteceu...

domingo, dezembro 04, 2005

Memórias felizes com gente...

Fim de semana chuvoso, agreste mesmo...
Norte também de mim, ou talvez o simples encontro de um norte que já não é o meu!
Eu, a marinhar por um rumo entre tantos possíveis, e os fantasmas teimosamente atrás de mim, a tentar fugir ao baú das memórias, por um labirinto que sou eu...
Já não há tempo para lamentos, as recordações acomodam-se num livro que me foi oferecido. Curiosamente o único que tenho de uma das terras onde vivi, aquela onde vivi mais no menor tempo!
E eu que sempre fugi a monografias pequeninas de terrinhas minúsculas, perdidas num mapa e entre linhas de comboio ou serranias altaneiras...
Tempos felizes, finitos, nas memórias de pessoas que já são outras!

quarta-feira, novembro 23, 2005

Um dos meus preferidos...

Uma mulher deitada de costas
as pernas abertas a vulva exposta
em primeiro plano entre as coxas
roliças e as nádegas espalmadas
os pêlos do púbis densos como escamas -
como linha do horizonte as suas mamas.



Jorge Sousa Braga
(ginecologista de profissão)

quarta-feira, novembro 16, 2005

De volta à lusa pátria...

A Polónia é linda e as suas gentes maravilhosas!

Curioso como o não imaginado se nos insurge, vindo do nada, e nos transporta para a novidade, para lá do horizonte da surpresa...

Jinkwia a todos, os de cá e os de lá!
Posted by Picasa

domingo, novembro 06, 2005

Carro vermelho em estrada negra!

Vermelho, supostamente para desviar maus olhados...
Quatro rodas a deslizar segundo o controlo das mãos que utilizo para acariciar, torcer, desviar as curvas e contracurvas que a minha vida percorre sinuosamente.
Não é novo, é só mais um carro!

sábado, novembro 05, 2005

Quem sabe?

Cartas, pessoas, factos, desconhecido conhecido, imaginado, desejado, desconfiado...
Eu, eu, eu... Egoísmo também no desamparo...
E o ego a sentir-se cada vez mais reduzido, tenso, preso, pequeno, minúsculo...
Tentativa vã de procurar apoio num futuro ainda não sonhado!

Cartas, cartas, cartas...

Infinito, infinitamente definitivo, desconhecido...

terça-feira, novembro 01, 2005

Velocidades...

Carro destravado,
Carro contra árvore,
Mãe projectada contra o abismo da minha alma,
preocupação suprema e dor maior...


As latas teimam em correr mais depressa do que eu para o abismo em que se metamorfoseou a minha vida!

segunda-feira, outubro 24, 2005

Amostra sem valor

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.
António Gedeão

domingo, outubro 16, 2005

Carta aberta a um Vírus

Exm Senhor, para que nos entendamos de uma vez para a eternidade, e brindo em honra da nossa palavra ad eternum jamais trocada, venho-lhe por este meio tentar esclarecer algumas ideias que pairam pela sua excelentíssima testa, com ares de suprema arrogância...
Antes de mais devo-lhe adiantar que um dos valores que mais prezo é a honestidade e que detesto padecer do mal do santo espírito de orelha, tanto quanto de males infligidos por auto-suposições devidas à falta de esclarecimento honesto à priori!
Dito isto, passo a informá-lo de que sou extremamente insegura, aliás orgulho-me de padecer daquela insegurança típica dos amantes, que lhes permite investir cada vez mais no ser amado, abjurando o erro de o ter como um dado adquirido e sempre presente.
Porém, jamais, alguém me pôde acusar de ter tido um comportamento próximo de uma crise de ciúmes, pelo simples facto de nunca ter sujeitado ninguém, inclusive a minha própria pessoa, a tamanha experiência. Caso, alguma vez, tenha dado essa impressão, pense bem e reflicta na possibilidade de tal comportamento, que descrevo apenas como uma mostra de olímpico desprezo contra unicamente uma das pessoas presentes, o Senhor, se dever a atitudes tomadas anteriormente por si próprio (ou acaso pensa que comportamentos de desonestidade, falta propositada de dialogo ou comunicação, ausência física intencional, e violência psicológica e emocional, não são argumentos bastantes para justificar tal atitude perpetrada pela outra parte?). Mais, se acaso houve embaraço dos presentes, acredite, o mesmo se deveu ao facto de o Sr. ter tido um comportamento para comigo que ninguém estava à espera, inclusive eu própria (para que saiba dois beijinhos no rosto, além de serem amistosos, também podem ser um acto de humilhação e toda a gente fica incomodada com o facto, não só os personagens envolvidos no dito beijo. Esperava-se no mínimo um beijo nos lábios, e três pessoas ficaram atónitas pelo não ocorrido).
Como vê, tudo menos ciúme, infelizmente a explicação é bem menos prosaica!
Mas, mais lhe venho esclarecer: - que eu mereço quem me ame perdidamente pelo que sou e que se sinta apaixonado agora e sempre, mesmo sabendo que o sentimento pode mudar de intensidade, mas jamais de intencionalidade! Mereço alguém que se sinta confortável, e até mais do que bem, comigo, gosto de ser porto de abrigo, amante (de preferência muitas e boas vezes), companheira e melhor amiga.
Gosto acima de tudo, de alguém que tenha tempo também para mim, e que faça gala nisso e não o contrário!
Quase a terminar, e fazendo algo que jamais fiz e que detesto fazer, vou pela primeira vez comparar dois Ms. Ao contrário do que imagina o M com que tanto se sente incomodado não foi o meu grande amor, fui um amor grande com começo e fim, bom, que me realizou enquanto mulher, mostrando-me o meu real valor, já o outro, o tal grande amor foi protagonizado pela ideia que eu tinha de si e que perdurou erroneamente por oito longos anos. Infelizmente, confesso, não o amei de forma tão pura e magnânime, esse foi o amor que eu dediquei à bela imagem que tinha de si (o reflexo perfeito do narciso)!
Tinha completa razão quando se considerou o vírus da minha vida, é-o! Mais, é um vírus terminal que eu alimentei primorosamente, culpa minha...
Mas como doença terminal que é, acaba por matar o hospedeiro, e neste caso não sou eu, mas sim o sentimento sofrido que eu nutria por si! Devo ainda confessar que me sinto muito triste, pelo que poderia ter sido e não foi e pela enfim morte do sentir, mas sobretudo sinto um grande alívio porque o doente terminal, que eu tão amorosamente acompanhei, finalmente morreu, o sofrimento terminou, está em paz!
Caro Senhor, ser humano, instigo-o a discordar de todo este meu lamento, caso ache que de alguma forma se sentiu injuriado ou injustiçado, para esse efeito encontram-se à sua disposição diversos meios de se manifestar, o telemóvel é um deles, caso não se encontre perdido...
Pela minha parte, nada mais tenho a acrescentar!

quinta-feira, outubro 13, 2005

Nuvens correndo num rio

Nuvens correndo num rio
Quem sabe onde vão parar?
Fantasma do meu navio
Não corras, vai devagar!

Vais por caminhos de bruma
Que são caminhos de olvido.
Não queiras, ó meu navio,
Ser um navio perdido.

Sonhos içados ao vento
Querem estrelas varejar!
Velas do meu pensamento
Aonde me quereis levar?

Não corras, ó meu navio
Navega mais devagar,
Que nuvens correndo em rio,
Quem sabe onde vão parar?

Que este destino em que venho
É uma troça tão triste;
Um navio que não tenho
Num rio que não existe.



Natália Correia

quarta-feira, outubro 12, 2005

Raiva

Seria talvez politicamente correcto desejar-te uma vida feliz, mas não o vou fazer, não o farei!
Recuso-me a rasgar ainda mais as entranhas do meu sentir, já de si desmembradas, com tamanha mentira.
Confesso que desejo que vás para o "raio que te parta" e que todos os raios do mundo te caiam em cima, confesso que te desejo uma imensa dor de solidão, confesso que te desejo x, y, e w...
Deveria dizer que ao arrepio da rejeição, que como suposta alma nobilíssima, angelical e ainda tua amante no sentir, te desejo o melhor... Mas não o farei, já disse!
Sou apenas uma mulher muito zangada, contigo e comigo mesma, frustada, exangue personificação da dor de alma, a que dói mais. Confesso-me amargamente dolorida, o que te imputo a ti, imputo-me sobretudo a mim: a, b, c, e f, e h...
Enraivece-me sobretudo a ideia de a culpa última ter sido essencialmente minha, por um dia ter acreditado e reiterado o erro por muito, demasiado, tempo... Não te poderei desejar nada de bom...
Sou apenas humana no ser e no sentir, mulher que luta por fazer um luto, por sobreviver a ele, com a suprema esperança de que o próximo suspiro, seja não de tristeza, mas de outra coisa qualquer, porque ser-me-ás então totalmente indiferente!

Horas findas

Romperam, quebraram-se irremediavelmente, os frágeis fios de seda que teci à nossa volta!
Sem barulho, com muito sofrimento, imensa desilusão, grande frustação, demasiado desespero, maior ausência e ao som dum silêncio estridente, foi assim que, um após outro, todos os fios se foram rasgando, deixando-me exposta a alma às vagas salgadas que a assaltam consecutivamente, impunemente.
Espraio-me no chão, com os olhos a tentarem reconhecer os caminhos por onde apenas eu andei, insisto em tactear os passos que não deste, os lugares que não abandonaste, pelo simples facto de nunca lá teres estado.
Sinto ter vivido durante demasiado tempo numa realidade dolorosamente onírica, dançado sozinha um tango que era só meu, crente num par que nunca se deu.
É tarde, demasiado tarde...

quinta-feira, outubro 06, 2005

Novo nada

Novo corte de cabelo, mais louco ainda do que o habitual.
De resto... Tudo, invariável, ameaçadoramente... na mesma!
Tentativa vã de ser igual a mim própria, frustação máxima de quem muda para que tudo fique igual!
Nem mudar se pode totalmente, pobre do eu!

Desejo

Olhos suspensos em altaneiros castelos de fumo,
Mãos juntas em concha a transbordar de nada...

quarta-feira, outubro 05, 2005

O degrau da falta

Não consigo descrever a sensação de terramoto passado que sinto na alma.
O peso é grande, a destruição dos sentidos maior!
O que habitava nos meus olhos deu lugar à desilusão, mais uma vez, mais outra vez...
De mim só restam ruínas fumegantes que teimam em me recordar o que não sou, o que nunca fui e jamais serei...
Certeza só uma: as construções são sempre muito altas, ondulantes, incertas, a perigarem o desabamento eminente!
A destruição em massa é o que resta do meu ego, do eu, superlativo e obtuso!
No fundo, bem lá no fundo, é tudo um engano, suprema ironia, ou talvez simples cortesia de quem não tem coragem!

terça-feira, outubro 04, 2005

quinta-feira, setembro 22, 2005

Entre aqui e aí...

Entre ir e vir,
Entre doenças e recobros,
Entre viagens mil,
Entre Norte, Sul e muito Centro,

A minha vida transcorre com uma mansidão enganadora em direcção a um horizonte teimosamente incerto...

Entre ansiedade e momentos à distancia,

A indefinição vai deixando a porta aberta aos ventos com sabor de mudança, resultando nem sempre na melhor decisão!

Eventualmente…

segunda-feira, setembro 12, 2005

quarta-feira, setembro 07, 2005

Um de nós...

Um de nós vai ter de criar,
Um de nós vai ter de deixar,
Um de nós vai ter de acalentar,
Um de nós vai ter de crescer,
Um de nós vai ter de ser,
Um de nós vai ter de acontecer, aceitar, sonhar, acarinhar, voar, amar, desamar, amargurar, acreditar...

Um de nós, talvez, um dia...

Vai ter de se confessar...

domingo, setembro 04, 2005

passagem dos elefantes

Elefantes na água optimistas à solta
optimistas à solta elefantes na árvore

elefantes na árvore optimistas na esquadra
optimistas na esquadra elefantes no ar

elefantes no ar optimistas em casa
optimistas em casa elefantes na esposa

elefantes na esposa optimistas no fumo
optimistas no fumo elefantes na ode

elefantes na ode optimistas na raiva
optimistas na raiva elefantes no parque

elefantes no parque optimistas na filha
optimistas na filha elefantes zangados

elefantes zangados optimistas na água
optimistas na água elefantes na árvore


Mário Cesariny

Ao arrepio da palavra a supremacia do encontro...

Os corpos necessitam do contacto de outros corpos. Com mais ou menos sentimento, o toque necessita de outro toque, os dedos procuram outros dedos, a língua outra saliva, outros gostos que não os seus, outros sabores, a mar, a sal, a doce, a amargo, a café, …, a ti, que és o outro!
Falar é bom, é muito bom, poder desabafar, contar, ouvir, ouvir, ouvir e, por fim, amar as outras ideias, as do outro, as que não são nossas, as partilhadas… E, mesmo que não se compartilhe a ideia, ama-se o som saído, pensado, vocalizado, abafado, na garganta outra, a tua…

Mas, o toque, o toque… Esse primitivo sentir, falar, partilhar, à flor da pele, ao arrepio da mesma… Essa eterna entrega do toque, suprema partilha, instinto animal deificado, implica o encontro, para lá das almas, para lá do místico, no humilde local terreno à mesma hora pelos dois.

segunda-feira, agosto 29, 2005

40000 de nós...

Somos essencialmente números...
Números e mais números em listas intermináveis...
E eu andei de mão dada na eterna burocracia com mais 39999 iguais a mim...

quinta-feira, agosto 18, 2005

Voos picados

Há certas alturas durante toda uma vida em que nos obrigamos a ser verdadeiros kamikaze, fazemos voos picados em direcção ao chão, uma e outra vez até termos a certeza que nos matámos por completo, não deixando moribundo nenhum sonho, nenhuma crença, nenhum sentimento. Depois, resta-nos esperar que das cinzas voltemos ao reino dos que vivem, sonham e sentem, outra vez...
O processo é sobejamente conhecido, tem um numero infinito de almas de existência, mas mesmo assim continua a ser tão doloroso...
Rasgam-se as carnes do sentir! Delicera-se a alma! Dói tanto!...
Acabou! Morri!

Silêncios

Há silêncios ensurdecedores, mais parecem gritos cortantes de tão agúdos...
E eu que não sei lidar com eles, nunca soube de resto!
Os do telefone são os piores, mas todos os outros vão matando a pouco e pouco, surda e lenta tortura...
Também há dos outros, os que dizem tudo, revelam segredos, sentidos de alma, o conhecimento profundo do outro, destes tenho saudades... Tempos passados!
Se calhar, todos dizem algo e o silêncio mais não é do que uma mensagem nítida, lenta e certeira. Mas, este... este eu não sei ler, confunde-me, amedronta-me, angustia até ao âmago...
E eu que não sei lidar com ele...

quarta-feira, agosto 17, 2005

Cordame

Uma corda é formada por mil fios que se entrelaçam e enlaçam numa dança contínua de força, suavidade e durabilidade. Têm um objectivo comum, a resistência contínua ao tempo, às intempéries...
Quando um parte, outro segue o mesmo caminho, e outro, e outro... Resta um último, bastião do sonho, que tal como ele se torna tenso e a resistência pouco a pouco tende a ser quebrada, desse fio já só resta a fibra que segura a ilusão, e tal como ela tende a ficar tensa...
Chega o momento da exaustão, do cansaço, do não conseguir mais, do não querer insistir, aguentar, mais...
Chegou o momento da quebra final e a fibra, outrora fio, outrora corda, perde o seu sentido e deixa-o cair perdido no abismo da impossibilidade, purgatório dos outrora entrelaçados... Chegou o momento do estertor final, da quebra do silêncio e do cansaço eterno... Chegou o momento de deixar partir, de morrer...
Morreu...

segunda-feira, agosto 15, 2005

Epifania

Ontem assisti ao fabuloso concerto dos U2.
Uma experiência espectacular já que, como ando parca em matéria monetária, tive a possibilidade de trabalhar na estrutura montada para o evento e assistir na integra ao concerto do grupo.
Mas, não é pela experiência, válida sem dúvida, que escrevo, antes por ter sentido que talvez ainda haja esperança para este mundo moribundo. Talvez as novas gerações possam mesmo vir a ser novas, plenas de um brio novo.
Não falo pelas palavras de Bono, nem pelas músicas apresentadas, mas pelos minutos em que milhares de jovens e eternos jovens bateram palmas em silêncio ruidoso de mãos a bater enquanto no ecrã desfilavam os artigos da carta dos Direitos Humanos...
Talvez ainda haja lugar para acreditar! Talvez...

quinta-feira, agosto 11, 2005

terça-feira, agosto 09, 2005

Coisas que ficam por dizer...

Sabes? Sabe bem sentir a tua preocupação... Aconchega o ego e a alma - sorrio -, dá-me forças para acreditar.
Há coisas que se pensam, outras que não se dizem - frequentemente as mais acertadas - e outras que se omitem e não se devia, mas apenas porque as sentimos e raramente as conseguimos verbalizar, inclusive para os nossos próprios botões. Essas são as mais verdadeiras porque fogem a todas as lógicas - desde logo à do sujeito que as não consegue ordenar nem explicar - são as mais puras e as únicas salvas do naufrágio em que se torna a consciência quando misturada com a razão.
Provas? Testes? Mania estúpida de nos orientarmos... Mas como vivemos em terra de cegos sem esperança de encontrar quem consiga olhar para lá, cá nos vamos tentando guiar através daquilo a que chamamos experiência, isto é, a lição que nos obrigamos a tirar, para fazermos parte da raça (des)humana em que teimamos em nos incluir para não sofrermos as humilhações de fazermos parte dos outros...
A verdade é que os testes não são destinados a ti especificamente, isto é, são, mas não são, passo a explicar a ilusão de mim: testo-te a ti, como o faço a mim própria todos os dias e como faria caso não fosses tu, mas um X, um Y, ou um H qualquer.
As razões que tenho para te testar são as mesmas que utilizaria para testar um outro sujeito.
Culpada a minha inesgotável insegurança e culpa maior a do espaço vivido por mim desde o dia em que nasci até hoje.
Arrasto comigo os escolhos de todos os naufrágios que sofri e em que fiz sofrer, espero que faças o mesmo de resto, porque no final só nos resta isso, a súmula de naufrágios vividos, os escolhos e nós!
Acredita! A ti não te imputo uma carga maior do que eu própria, o acaso e o que há-de vir... Não te vejo como uma Fénix, renascido das cinzas do passado, esse já foi catalogado, armazenado, digerido.
Agora és novo, capítulo de livro a cheirar a novo, de folha branca. Tens, portanto, uma carga maior, o teste do que há-de vir, do que poderá acontecer, do que poderá não existir, do acreditar, esperar, insistir, mas sobretudo da incerteza por enquanto.
És um ser novo, visto pela primeira vez, resgatado de todas as lógicas!

domingo, agosto 07, 2005

Invitro

Cansada, exausta!
Parece que lá fora tudo gira, tudo se move, principia e termina - como deve ser, como tem de ser - e eu cá dentro a remoer dores antigas, medos eternos...
E esta dor de estômago que não me deixa!
Sufoco na minha imagem exangue que teima em submergir de um cenário que me parece dantesco. Apetece-me chorar, rasgar as entranhas do devir, esmurrar o mundo no nariz.
Mas, limito-me a me aquietar nesta sórdida ansiedade e a sentir-me cada vez mais só... Só no meio de um milhão de pessoas e a sentir a falta de apenas uma, ironia suprema!
Tudo me foge - na verdade até eu fugiria de mim própria neste momento se pudesse – mas, ao invés, prendo-me cada vez mais neste ultimato da não vida, da não existência, em que tive o infeliz acaso de me enlear.
As parcas escolhas que me foram permitidas estão a ter um preço superior ao habitual - ao indicado no preçário da existência -. Não sei se tenho trocos suficientes nos fundilhos para me libertar das sensações!
" Ter uma vida" é diferente de estar "vivo"!
E esta dor de estômago que não me larga...

sábado, agosto 06, 2005

Rosa de sangue e mentira

A "necessidade" que não era necessária.
A cruel mentira escrita com sangue...

La canción desesperada

Emerge tu recuerdo de la noche en que estoy.
El río anuda al mar su lamento obstinado.
Abandonado como los muelles en el alba.
Es la hora de partir, oh abandonado!


Sobre mi corazón llueven frías corolas.

Oh sentina de escombros, feroz cueva de náufragos!


En ti se acumularon las guerras y los vuelos.

De ti alzaron las alas los pájaros del canto.


Todo te lo tragaste, como la lejanía.

Como el mar, como el tiempo. Todo en ti fue naufragio !
Era la alegre hora del asalto y el beso.
La hora del estupor que ardía como un faro.


Ansiedad de piloto, furia de buzo ciego,

turbia embriaguez de amor, todo en ti fue naufragio!


En la infancia de niebla mi alma alada y herida.

Descubridor perdido, todo en ti fue naufragio!


Es la hora de partir, la dura y fría hora

que la noche sujeta a todo horario.


El cinturón ruidoso del mar ciñe la costa.
Surgen frías estrellas, emigran negros pájaros.


Abandonado como los muelles en el alba.

Sólo la sombra trémula se retuerce en mis manos.


¡Ah más allá de todo! ¡Ah más allá de todo!
Es la hora de partir .¡Oh abandonado!

Pablo Neruda

quinta-feira, agosto 04, 2005

Pesos pesados

Realidade, realidade, realidade... Maldita sejas que me confrontas comigo mesma!
O dia pesa, está abafado, parado e sufoca... E eu? Eu... Sufoco sob a minha imagem reflectida no espelho das desilusões.
Os fantasmas teimam em dançar à minha volta circundando-me com imagens de insucesso... E eu... Escondo-me atrás de um qualquer doce, fechando os olhos aos problemas e à balança, deixando as culpas para o fim da degustação, da vida...
Tudo me pesa, tu e eu própria, e a minha incapacidade da lidar com tudo, comigo, é a mais pesada de todos!
Culpada, culpada, culpada, com sabor a caramelo, a chocolate, a doce de leite...

quarta-feira, julho 27, 2005

8 anos

8 anos são muito tempo, 10 muito mais, e eu que não sei que fazer deles... Que fazer de mim...
Maldito tempo que deixas memórias a preencher vazios e vazios a fazer de memórias. E eu a vaguear por aqui, a procurar o meu rastro.
Anarquia total em mim!

Ao abandono

Sinto-me abandonada ao meu espectro, a alma pesa e as mil e uma ilusões muito mais - são na verdade mil e uma toneladas de mim...
Abandonei-me ao infinito e ele tarda em vir em meu encontro, necessito de ser resgatada de mim, dar a outros os meus sonhos, deixá-los ir com o vento procurar outras paragens, outros amores, quais folhas secas que repousam enfim num qualquer ervário de criança.
Este abandono pesa, mas não mais do que o eterno medo agarrado ao existir dos sentimentos talvez imaginados...
Ó tu de mim salta para ali, foge, deixa-me aqui a lamber feridas novas de nostalgia futuras!
Eu peso, sou um peso pluma de mim mesma, do meu passado futuro, insustentável leveza de um ego ferido, abandonado ao destino de outros, nunca se encontrando com os demais...
Em abandono do eu, em abono do mim, numa esperança de desencontro remissivo, encontro-me de alma represada em imaginações de almas represadas, na suprema esperança...

sexta-feira, julho 22, 2005

Hummmmmm... Dr...

Happy Birthday
to You
Mr Presidente…

quinta-feira, julho 21, 2005

Mais manchas vermelhas no âmago das almas

Mais sangue, que pelo menos alimente aqueles que o procuram...
Mundo cruel que não tratas os teus filhos de maneira igual, uns filhos, outros enteados de um destino indiferente e assassino... Berços diferentes embalados por mãos e braços também diferentes, cruelmente obrigados a ver o Mundo de forma tosca e bicolor - nós os bons, eles o mal...
Que pelo menos as toneladas de sangue já derramado sirva para colorir e curar este mundo isanamente daltónico!

segunda-feira, julho 18, 2005

Encruzilhadas

Crescer custa, é um parto difícil, doloroso, que nos acompanha a vida...
Subo a minha escada a resmonear nos cruzamentos que encontro, nas escolhas que faço de olhos vendados, lançada no escuro, com os cinco sentidos afinados pelo medo de não conseguir, de perder, de não ver, não descobrir - ou pior, de descobrir tarde de mais que isto afinal não passa da peça final, sem direito a ensaio...
Embrulho e desembrulho-me, faço e desfaço-me, cada dia que passa é uma pele que dispo e abandono ressequida ao sol da memória e às intempéries do arrependimento, que no final não sinto...
Como posso subir a escada sem uma ajuda? Como me puderam abandonar a mim mesma, à minha vulnerabilidade irresponsável?
Estou-me a parir, tenho partes incompletas, tê-las-ei sempre, eterno e definitivo protótipo inacabado...
Como posso não sentir a minha incompletude a rasgar-me a pele, a violentar-me os sentidos?Quem teve a ousadia de nos acrescentar mais do que as três dimensões politicamente correctas, quem nos colocou na dimensão infinita?
Tarot, psis que venham, religiões mil e eu continuamente a vaguear no mar de sargaços da incerteza, a afogar-me na minha pequenez, na minha ânsia de saber mais, e a lutar insistentemente para me libertar deste vazio, desta estupidez crónica...
Quero aprender, conhecer, apreender-me e ao mundo que trago agarrado desde que nasci...
Deus... Penso já o ter resolvido, quanto aos Homens a desilusão é brutal!
Insisto em me tentar salvar, resgatando uma esperança fugaz e escorregadia na Humanidade. Os Homens não são dignos de confiança cega...
E as Mulheres também não, irmão Joaquim!

quinta-feira, julho 14, 2005

Deixa-me poisar a cabeça no teu colo,
brinca com os meus cabelos e diz que gostas assim...
Não fales, prende o gesto na eternidade do momento,
mima-me, seduz-me, sussurra-me ao ouvido palavras incompreensíveis,
toca-me com as pontas dos dedos,
de olhos bem fechados antecipando prazeres futuros...
Partilhemos vontades e sentimentos em sintonias mudas.
Protege-me, mima-me, deixa-me permanecer assim,
como lagarta em casulo à espera da metamorfose, da génese, do ser...
Deixa-me Ser, poisando a cabeça no teu colo...

domingo, julho 10, 2005

Viva Espanha, viva a coragem!

Viva, viva, todos iguais, todos diferentes!
Viva a liberdade de escolha, viva!
Abaixo as convenções e os preconceitos!
Felizes daqueles que por uma vez decidiram deixar de olhar para o próprio umbigo e decidiram viver e deixar viver!
Casamento para quem o quer, para quem o deseja, filhos a quem os pode e vai amar!!!
Abaixo a hipócrisia!
Alvíssaras para quem tanta coragem teve e soube soltar as amarras rumo ao novo milénio, dando o primeiro passo em direcção à verdadeira liberdade dos sujeitos, alvíssaras!

quinta-feira, julho 07, 2005

Vítimas

A todas as vítimas de todos os terrorismos, sejam eles de fundamentalismos ou de Estado, chora a minha alma por vós!
A todas as vítimas de um mundo cruel, injusto e dirigido por senhores da guerra e leis à medida dos comércios livres, clama a minha alma por vós!
Vós que não tendes voz nem vos restam lágrimas para chorar, tomai as nossas por vossas...
De Londres à Palestina, de Darfur ao Ruanda, do Iraque ao Afeganistão, de Madrid a Nova York, sinto a queimar na pele as lágrimas de sangue dos que já não tem força para soltar um simples gemido...

quarta-feira, julho 06, 2005

Vidas...

Anos passados, sonhos trocados, nostalgia de outros tempos, de uma infância privada, particular, do tempo em que subíamos ao topo da serra para escolher o pinheiro de natal - aquele mesmo, porque o que estava a dois passos de casa não servia - das tardes passadas à procura de míscaros quando só pretendíamos trazer para casa o musgo digno para deitar o menino, da árvore que fazias só para mim com o respectivo presépio e que eu ainda preservo no jardim secreto da memória, que me alenta naquelas horas em que as lágrimas teimam em brotar de todos os poros da pele... As histórias cantadas ao deitar... O crescimento da consciência do Ser, do saber, do não querer gostar de matemática...
Somos pai e filha, demasiado iguais para não discutir, demasiado conscientes do outro para não deixar de amar...
Mais um ano, teu, nosso...
Espero que também nos aches lá, nas tuas telas, porque para além delas já nos encontrámos!
Parabéns Pai!

terça-feira, julho 05, 2005

Requiem

Portugal cada vez mais triste, mais pobre de espírito...
Toquem a rebate os sinos de todas as almas amantes da beleza, da cultura, toquem já, o ballet Gulbenkian foi extinto esta tarde!

segunda-feira, julho 04, 2005

Nocturnus soturnos

Esqueletos saídos do armário a vaguearem ao sabor da noite fresca, violenta e tímida,
assim sou eu a vaguear pela vida e a marear pelos sonhos...

quinta-feira, junho 30, 2005

Desoras da minha vida...

São 5 da manhã, e tenho por companheira a habitual insónia de todos os dias.
Se bem que hoje foi diferente, deitei-me cedo, impregnada de um cansaço inexplicável, e voltei a acordar às 2 da manhã, exactamente como aconteceu no outro dia quando estava contigo, não, não penses que é pelo teu mau dormir, não é. Na verdade nem eu sei bem o que é!
Será mesmo insónia? Ou apenas um problema de sonos trocados que me fazem dormir a desoras, de não conseguir ter por companheiro um horário habitual, mesmo quando me esforço por habituar o corpo e o espírito aos ritmos da natureza? Não sei, nem isso sei, a somar às toneladas de coisas que não sei, nesta vida tão pequena e já tão desajustada...
Se calhar tens razão quando dizes que eu sou um ser indomável, se calhar até nestas pequenas coisas...
Doem-me os dias que passam dolentemente, ainda que de uma forma totalmente involuntária quase agressiva, violenta... Dói-me esta inexistência forçada, este querer e não poder fazer!
Tenho medo, de tudo, do que já fiz, do que estou prestes a fazer, e do que temo não poder fazer!
Pareço-me tão vazia quanto as horas nocturnas que passam devagar pela minha vespertina, demasiado devagar.
E as malditas contas para pagar, sempre as malditas contas, as comigo própria e com os outros... E as malditas ilusões, frustrações, coisas inacabadas de mim, nados mortos à nascença!
Tempos que se arrastam noutros tempos, os meus!
E continuo a insistir em fazer o desmame do Zoloft. Se calhar não devia, os tempos não prognosticam calmias, mas, por incrível que pareça, apetece-me sentir na carne, para além da flor da pele, o medo e as frustrações... Pareço masoquista? Só se for de mim mesma...
Se não sei fazer outra coisa, pelo menos que sinta!
Ai, as vontades, as vontades... Do querer ser mais, ajudar, viver, sentir, desejar, acreditar num outro dia, num mundo melhor! Enfim, não ter medo, de mim, de ser, de ti, do não ser, de acreditar, em mim, em ti, em nós, num futuro para todos os gentios...
Maldita História que tanto cobras!
São 6 da manhã, o dia aclareia a terra, vou tentar dormir mais uma vez...

quarta-feira, junho 29, 2005

Verdades de um "Psi"...

O primeiro amor... Muitas vezes não é o melhor, o mais intenso, o mais duradouro, o mais..., amor até! Mas por ser o primeiro, abre uma paisagem não vivida e contudo esperada aos nossos olhos de jovens. Por isso me abstenho de estabelecer hierarquias ou "top-tens". Direi apenas que recordo o meu com ternura infinda, mas não contaminada por uma idealização reactiva a desamores de outras épocas. Não quero voltar a ele ou utilizar-lhe a memória como bálsamo, apenas lembrá-lo pelo que foi - o primeiro molhar de pés no oceano confuso dos afectos:).

Julio Machado Vaz

domingo, junho 26, 2005

Navegações...

Hoje tive o grato prazer de ouvir na TV que o psiquiatra Júlio Machado Vaz tem um blog. Como bicho curioso e carpinteiro que sou, fui imediatamente navegar na net à procura, não de espiar a personagem mas, de diversos esclarecimentos e modus pensantis sobre os trilhos da vida.
Bem dita a psiquiatria - confessionário, penitência e tentativa de absolvição dos tempos modernos!
Acaso não gostasse tanto desta disciplina e deste seu paladino, não estaria agora aqui a importunar-vos com coisas destas, que não é meu feitio, mas aqui vai... Não deixem de dar um saltinho ao www.murcon.blogspot.com!
Ah! E já agora, não deixem de ouvir e pensar na excelsa escolha discográfica que o acompanha.
Espero então que me perdoem esta pequena intromissão em blogs alheios...

quinta-feira, junho 16, 2005

Mãe

15 de junho é o dia da minha mãe...
Degrau a degrau subo na vida para lhe poder chegar aos calcanhares, a isto chamo crescer!

terça-feira, junho 14, 2005

Palavras imortais

É urgente o Amor
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
É urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor
É urgente permanecer.


Eugénio de Andrade

"Até amanhã, camarada"

A todos quantos ousaram sonhar um mundo melhor e que hoje estão de luto,
a luta continua!
E enquanto as crianças chorarem e os Homens quiserem, a luta continuará!
Os Homens morrem, a obra não.

Ainda a propósito do 13 de Junho

Dia interessante este, é o mínimo que poderei dizer. Dia de muitas mortes, imortalidades e outras tantas vidas.
Os meus parabéns a Fernando Pessoa, e o meu lamento aos imortais Cunhal e Eugênio - vós que como tantos outros "da lei da morte vos libertastes".
Mas sobretudo o meu eterno agradecimento a todos os meus amigos que de mim não se esqueceram...
Bem hajam!

Monstros do meu passado

Não me toques, monstro feio
não te conheço, não te quero conhecer,
as tuas mãos são-me estranhas
e a tua insinuação é-me revoltante

Revoltam-se-me as entranhas ao teu bafo,
larga-me bicho mau, papão de pesadelos adultos...

Não me toques, não te atrevas,
que da névoa dos meus olhos posso fazer forças,
racho-te ao meio e arranco-te esse odiento bafo pelas orelhas
Larga-me, não te atrevas a tocar-me na alva fímbria do vestido!

Não me toques bicho feio, homem monstro,
desconhecido, desconhecido, desconhecido...
Não sou quem tu pensas,
quem tu julgas poder dobrar às tuas horrorosas vontades,
não, não sou eu...

Vai, some-te,
que eu nunca mais te veja, sinta,
ou sequer relembre o teu bafo e o toque nojento
de homem podre!

segunda-feira, junho 06, 2005

Pathos

Sono, ó sono que ignoras penas e dores,
a nossos rogos num sopro suave
vem, portador de uma vida feliz, ó senhor.
Conserva sobre os seus olhos
esta serenidade agora sobre eles derramada.
Vem, vem até mim, tu que suavizas as dores.
Filoctetes
Sófocles

domingo, junho 05, 2005

Ninguém...

Nem eu, nem tu, nem um toque, nem uma mensagem, um telefonema sequer...
Beijo reflectido em gelo quebrado, o da minha alma...
Onde estou eu, qual o meu papel, em que paragens me devo apear?
Tenho urgência em me resgatar, mas os meus membros teimam em não se mexer...
Medo avassalador de ter parado num tempo que não é o meu, num lugar onde não devo estar!
Quem sou, que faço aqui? Que sinto de nós? Que quero de mim?

Maleitas minhas

A noite está quente e a saudade sufoca-me...Não consigo dormir, viro-me, reviro-me e o sentimento é sempre o mesmo...Não posso, não devo...
Onde está a prudente cautela, fiel companheira de todos os tempos? Que foi feito de mim?
Sinto falta de um toque, um abraço, tempo suspenso no infinito!

quarta-feira, junho 01, 2005

Do céu ao infinito

Pássaro de ferro, que sonhos transportas tu, que horizontes transpões, que ligações fazes, que vidas cruzas, que esperanças trazes e levas?
Espero-te, espero-me, para lá do infinito!

terça-feira, maio 31, 2005

Shiuuu...

Há pequenos momentos, pequenas palavras, pequenos silêncios, pequenas mensagens, pequenas oferendas, pequenos gestos, que dizem tudo, valem tudo e permanecem até à eternidade...
Shiuuuuu... Meu pequeno grande tesouro, meu pequeno grande segredo desvendado... Shiuuuu...

sábado, maio 28, 2005

20 rosas vermelhas...

Há pessoas que ainda nos fazem rir, sonhar e acreditar no lado bom do género humano. Trazem consigo a salsa no ondular no cabelo e o merengue nas coxas, os olhos brilham de esperança e de saudade do calor dos trópicos e do mambo dançado com propriedade...
A pele com cheiro de maresia e cor de canela, a beleza interior a rivalizar com doces curvas de bela imagem, senhora negra, amiga minha...
Verdadeira pérola deste mundo, de alma límpida e amoroso ser!
A beleza ultrapassa fronteiras e a amizade verdadeira também, singelo gesto fraternal de supremo valor... 20 rosas vermelhas!

quinta-feira, maio 26, 2005

Lições que não queria aprender...

As pessoas são estranhas, pregam-nos partidas. E quando pensamos que já não vai voltar a acontecer, que esta ou aquele são diferentes, amadurecidos pela cor dos anos passantes, encontramo-nos face a face com o engano, a nossa suprema desilusão.
Tropeçamos de repente em recordações antigas, coisas de criança, na época exacta em que, naquela tarde, a nossa melhor amiga de quatro anos descobre que tem outra menina para brincar e já não precisa de nós, até ao momento em que a dita menina se vai embora, e aí, lá vem aquela que consideravamos irmã de coração com palavras doces de promessas de brincadeiras e olhos de pedinte de companhias antigas e tropelias novas...
Os anos passam, e quando vivemos o turbilhão de emoções da adolescência, no doce torpor do esquecimento da infância, ávidos de idades mais adultas e cartas de condução, liberdade suprema, uma outra amiga de peito, faz-nos relembrar lições antigas ao escolher a companhia de um rapazote, com ares de homem, a nos consolar em hora de suprema angústia.
Então, dizem-nos outras vozes à laia de consolação: -"deixa, assim ficas a conhecer quem tinhas por amiga..."
Suprema desilusão o género humano! Mágoa eterna!
Os anos passam, mas as pessoas são as mesmas, com rostos, idades e corpos diferentes, mas as mesmas... E quando são mais necessárias, chamadas a revelar a sua responsabilidade de amigas, revoltam-se porque "não se pedem couves ao padeiro".
Na realidade não se pedem couves ao padeiro, mas a um amigo pode-se pedir a horta inteira, porque ele, pelo simples facto de ser amigo, deve inventar a agricultura, mesmo que o seu mester seja o de astronauta, porque menos não se pede a um amigo e o dobro é lhe sempre devido!
Há lições que gostaria de não ter aprendido, e jamais recordado...
Prefiro mil vezes enterrar os pés na fresca e húmida terra e lá plantar promessas de amizade e colher compromissos de tudo fazer, tudo aprender, para ajudar a quem mais quero bem. Chamo a isto responsabilidade e confiança dada e trocada!
Mas, bem lá no fundo, só desejo que tudo não passe de um lamentável equivoco...

quarta-feira, maio 18, 2005

Culpa maior

Culpada de mim, por ser como sou...
Culpada de mim, por sentir assim...
Culpada de mim, por ter os instintos à flor dos sentidos...
Culpada de mim, por ser tão fraca e insegura...
Tenho medo de te desiludir, de me magoar, de te perder...
Culpada de mim...
Confesso-te, para me explicar e perdoar a mim mesma...
Não te prometi nada, mas comprometi-me comigo mesma, com o meu sentir...
Tenho medo de te perder, de te magoar...

segunda-feira, maio 16, 2005

Palavras vãs...

Queria ter estado hoje contigo, queria ter-te sentido,
queria que não tivesses alterado os planos...
Queria não ter este maldito sentimento de déjà vu.
Imploro-te, prova-me que estou errada...
Saberás tu qual é o conceito de telemóvel?

Bestas de nós...

Há animais que nos entendem melhor que os outros da nossa espécie!
Há animais mais nobres do que os da nossa espécie!
A minha espécie raramente os entende, e eles com a sua enorme paciência olham para nós com a ternura de quem compreende a nossa fabulosa capacidade de complicar o mais simples, o mundo dos afectos!
Só nos abandonam quando a vida os abandona, deixando a nossa, sua família, mais pobre e entristecida...

sexta-feira, maio 13, 2005

Oráculos de mim

Sorvo as tuas palavras em bocas alheias, procuro nelas uma confirmação que não ouço de ti, que não leio nos teus lábios...
Procuro em vão um sinal nos pássaros que voam e dirijo-me aos oráculos. A Sibila teima em não mostrar o meu destino no livro dos desígnios.
Na palma da mão só sinto o tremer do medo em te perder...

O incomensurável valor da vida nascida e criada!

Irritada, simplesmente irritada, é como eu me sinto neste momento!
Farta da porcaria das convenções e do cunho negativo da herança judaico-cristã que esta treta de sociedade em que vivemos teima em fazer única herança cultural, mais se assemelhando a um espartilho que nos sufoca, de tal modo que condena a nossa conduta ao paroxismo...
Não se julgue que tenho algo contra a herança judaico-cristã... Não, de forma alguma.
É nossa e temos conviver com ela como algo vivo, como deve ser sempre a memória, estruturante de uma sociedade, da qual faço parte.
No entanto, como tudo na vida, tem aspectos bons e maus.
As heranças culturais são por si só construtoras , contudo não devem ser constritoras; são formadoras, objectos de identificação de grupo, nunca devem ser perversamente utilizadas como argumento para condicionar o futuro.
Esta sociedade, com a sua herança judaico-cristã, também é herdeira de outros valores, de outras religiões, de outros modus vivendi. Impossível esquecer Atenas, Roma, os Celtas, as Luzes, e também todo o historial de guerras e perseguições a diferentes opiniões...
Não posso por isso ficar impávida quando um padre de uma aldeia se acha no direito de dar um valor à vida humana...
Não vou colocar em questão os valores, obviamente invertidos, deste senhor! Recuso-me a descer ao seu nível.
Nunca menti em relação à minha postura perante a interrupção voluntária da gravidez. Sempre achei que a mulher tem o direito de dispor do seu próprio corpo, como de resto os homens também têm, mais, sempre defendi que uma criança deve ser desejada, e a sua vinda a este mundo deve ser planeada e rodeada de atenções, como qualquer criança merece... O direito a uma vida com dignidade!
Não posso obrigar ninguém a partilhar da minha opinião, mas devo respeitar todas as decisões tomadas por aqueles que por variados motivos decidiram em consciência ter ou não ter um filho. Chama-se a isto pluralidade democrática, respeito pelo outro e pelas suas opiniões.
Compreendo que a Igreja como instituição tenha uma opinião diversa, já não aceito que essa mesma instituição tenha o direito de objectivamente interferir na vida política de um país democrático. Mas, mais grave, sendo um verdadeiro atentado à condição humana e aos seus direitos, é o facto de um membro do clero vir publicamente afirmar que é menos grave o assassínio bárbaro de uma criança de cinco anos em comparação com o acto medicamente assistido de interrupção voluntária da gravidez.
Pois bem, Sr. Cura, tenho-lhe a recordar que a vida humana não tem valor, que uma criança de cinco anos também não se pode defender, mesmo que grite ou chore nunca vai denunciar o seu carrasco, dado que na maioria das vezes ela se confronta com a dor de sofrer as sevícias de alguém a que ela ama e que a deveria amar, tal como Cristo, ela ama o seu inimigo!
Mais, devo-lhe ainda lembrar que enquanto ainda hoje se discute se um feto é já um Ser Humano, com alma (para quem é crente nela), passível de personalidade jurídica; de uma criança ninguém duvida.Imagine até tem alma!
Se calhar não sabe, mas até ao séc. XIX as crianças só contavam como pessoas depois dos sete anos, até aí, e devido ao alto índice de mortalidade infantil, eram consideradas apenas Almas de Deus, não constando inclusive nos registos paroquiais, razão para não contarem numericamente para a vida paroquial. Mas, já nessa altura eram consideradas indefesas e impolutas, de tal forma que estas alminhas, mal morriam, e caso tivessem sido convenientemente baptizadas, ascendiam logo aos céus.
Pois bem, há-de convir que uma alma vale por si só e por isso nunca vale mais do que uma outra, muito menos a sua morte!
Até Cristo sabia que as crianças estão indefesas, daí ter pedido para as deixarem ir até ele, para as proteger dos males deste mundo e de pessoas, que como o senhor, acham o assassinato de uma criança um mal menor, até porque ela hipoteticamente “poder-se-ia ter defendido”!
Deixe-me só dizer-lhe do alto do meu humilde agnosticismo, que para mim uma vida humana vale o mesmo, seja ela um recém-nascido ou um velho de noventa anos, não tem valor, e acredito que se Deus existe, chame-se ele Deus, Jové, Zeus, Ser Supremo,..., fale que língua falar, também não há-de dar mais valor a um ser do que a outro. E na sua infinita misericórdia hão-de ter especial atenção os mais desfavorecidos, especialmente as crianças, as que já nasceram e nunca pediram para tal!

quinta-feira, maio 12, 2005

Hormonas irrequietas...

Malditas hormonas, quando decidem andar aos saltos, não há quem as ature!
Mais parece que se estão a preparar para correr os mil metros de barreiras ou fazer saltos à vara consecutivos.
Parecemos iô-iôs humanos, vítimas de uma condição servil da fabulosa programação genética.
Instável e eterna condição feminina!

Sentidos de alma...

Lancei ao mar bravio da minha alma
uma garrafa de vidro fosco,
dentro jazia um malmequer desfolhado,
bem me quer, mal me quer, bem me quer...
Que dê à costa em segurança,
vencendo marés tormentosas,
e me encontre lá, na mítica ilha dos amores.

quarta-feira, maio 11, 2005

4,5 milhões de anos

Envolveram-se!
E pronto, é isto, nada mais há a dizer, não se sabe bem como, mas envolveram-se!
Na verdade pode ter sido culpa do frio da noite, do sítio escolhido ao acaso, do próprio acaso, ou simplesmente daquele sítio que se aloja algures no estômago, e que nunca se consegue preencher, nem sequer com as toneladas de chocolate que as mulheres costumam ingerir para afastar as doses maciças de ansiedade provocadas pela carência afectiva...
Isto é engraçado, o cérebro é que se apaixona, é que sente a falta, e depois é o estômago que paga as favas. E... Lá vêm outra vez as culpas, pelo ingerido, pelo não ingerido, pelo falado, pelo convenientemente esquecido, pelo feito, pelo não feito, mas sobretudo pelo sentido!
Bem, tudo isto e muito mais vem à cabeça, quando os olhos se dão conta de estarem a olhar para um tecto que não é o seu...
Merda! Que vontade de acender um cigarro, mesmo ali naquela cama alheia, não fosse o caso de ser não fumadora... Uma pessoa não é de ferro, e é nestas alturas que nos assaltam os apetites estranhos de segurar algo entre o dedos e sorver um aroma nunca antes experimentado!
Para o diabo tudo, o universo que caia mesmo no centro do cocuruto da cabeça!
E este sol, este maldito sol que teima em cegar, jorrando copiosamente pelas portadas da janela...
Segunda tentativa para acordar; primeiro: - reconhecimento do local; segundo: - reconstituição dos factos...
Hum... Como se chegou a este ponto do mapa, não interessa, agora, a noite nesta cama faz pensar, até porque dormir não foi uma condição, isto é, foi, mas só depois de muito exercício.
O chuveiro canta... A noite foi boa, não se pode mentir!
A pele acordou os sentidos, mesmo à flor da pele, os pêlos eriçaram-se, e aqueles lábios húmidos, muito carnudos, a traçar o mapa geográfico do corpo... As mãos tocam tudo, apalpam, apertam, espremem, beliscam... Os mamilos parecem mísseis, de tão erectos teimam em apontar um norte inexistente...
O norte já foi perdido e nunca reclamado!
As pontas dos dedos tintilam o clitóris, os lábios fazem-no melhor ainda, mordiscam levemente, chupam, sugam, esfregam... Calor húmido, tempestade afrodisíaca na cama, lençóis pelo chão, sexos contraídos, descontraídos, unidos num amplexo pleno, desunidos para dar lugar aos beiços... Esquecimento de si, do outro, do mundo! Excitação ao rubro! Supremo!
Hoje? Hoje é um novo dia! Depois de silenciosamente vestida e calçada, sai para a rua e recebe a enchente de transeuntes matutinos a plenos pulmões.
Voltar para repetir? Não sabe, sente apenas que é mulher, pressente, deseja, guarda dentro de si os quatro milhões e meio de anos de existência, de fêmea...
Está viva!

segunda-feira, maio 09, 2005

De sátiros e ninfas

Gosto de sátiros!
São feios, sujos, repugnantes até, com as suas barbas enormes e o seu corpo disforme (meio homem, meio bode), com um olhar de quem já viu tudo e por isso mesmo retira o maior prazer do simples gesto de apalpar ninfas, que se fingem indefesas para sentirem o gáudio de serem apreciadas, desejadas, e verem as próprias carnes seguras, arrepanhadas, espremidas, pelos longos dedos dos sátiros habituados a fazerem-nas gemer, tal qual as flautas de pan...
As ninfas, essas, sonham com eles, com seus membros viris, com os seus beiços arreganhados de volúpia. Fingem não gostar, mas correm a uma velocidade branda por entre a floresta de modo a que eles as agarrem e as possuam atrás de uma qualquer àrvore da floresta mítica...
Fingem, fingem, o eterno jogo da sedução, verdadeira condição humana, transposta para o mundo dos mitos, a que nem Hades se furtou...
Gosto de Sátiros, são honestos na sua rudeza e copulam com o desejo primordial. Do seu sémen nascem as plantas.
Viva a abundância!
Faça-se o elogio dos instintos carnais, perpetuadores da espécie e de desejos afins, fios condutores da sanidade de um mundo insano, desafortunado, porque afastado do poder do Olimpo!

sábado, maio 07, 2005

Cantiga do mar d'além

Mar do Norte que novas me trazes tu do meu amor?
Mar do Sul que novas me vens contar do meu amado?
Mares nunca dantes navegados por onde anda meu senhor?
Ondas revoltas do meu amor que vozes longínquas me trazeis?

D'além mar voltam gaivotas que trazem consigo os ventos revoltos,
só não trazem notícias do meu sentir...

Bailam meus pés nus em crespos seixos,
lambem minhas pernas as ondas frias da água de finisterra,
a nortada acaricia-me os cabelos,
só tu não te fazes sentir, ó do meu coração...

Ondas do mar salgado trazei até mim o meu amado,
Ondas do meu descontentamento dai-me alento...
Vem, mar revolto, vem,
traz na tua maré quem me quer bem...

Silogismo imperfeito

O minha transpiração é corrosiva,
a transpiração é minha,
logo, serei eu corrosiva? Ou estar-me-ei a esconder dentro duma imagem pré-corrosiva?
Mas na verdade, quem é verdadeiramente corrosivo? O eu sujeito, ou o sujeito do mundo que eu utilizo como casa?
No fundo, serei eu quem transpira? Ou os pingos de suor que escorrem pela minha pele não são mais do que lágrimas vertidas por este mundo vítima da corro(p)são de todos nós?

Palavras roubadas...

"A chuva cai violando o silêncio da noite...
Violando o silêncio do lampião,
que indiferente deixa cair a sua triste luz na minha varanda...
Violando o meu silêncio..."

J. M. Teixeira

quinta-feira, maio 05, 2005

Os 7' da eternidade

A eternidade está lá, está aqui,
está onde a quisermos encontrar...
A bola colorida pula e avança nas mãos da dita criança,
A bola colorida pula e avança no jogo de vida e morte,
estampado na tapeçaria de Clio.
A eternidade também pode estar em 7 minutos!

terça-feira, abril 26, 2005

Via del Campo

Via del Campo c'è una graziosa
gli occhi grandi color di foglia
tutta notte sta sulla soglia
vende a tutti la stessa rosa.

Via del Campo c'è una bambina
con le labbra color rugiada
gli occhi grigi come la strada
nascon fiori dove cammina.

Via del Campo c'è una puttana
gli occhi grandi color di foglia
se di amarla ti vien la voglia
basta prenderla per la mano

e ti sembra di andar lontano
lei ti guarda con un sorriso
non credevi che il paradiso
fosse solo lì al primo piano.

Via del Campo ci va un illuso
a pregarla di maritare
a vederla salir le scale
fino a quando il balcone ha chiuso.

Ama e ridi se amor risponde
piangi forte se non ti sente
dai diamanti non nasce niente
dal letame nascono i fior
dai diamanti non nasce niente
dal letame nascono i fior.


Fabrizio de André

segunda-feira, abril 25, 2005

Ao meu platónico amor

Pediste-me que te escrevesse um texto, mas as palavras são demasiado vagas e vazias para dar conta do meu eterno bem querer...
Ao invés dar-te-ei, mais uma vez, a certeza dos meus sentimentos e da minha lembrança, a ti que tantas vezes me adormeceste no teu colo.
Suportas estoicamente todas as minhas paixões, incitas-me até a vivê-las sofregamente, mas é a ti que recolho a minha dor quando me sinto só!
Dá-me força saber que sempre te encontrarei, ainda que nos afaste a distância, e que o teu ombro será sempre altivo e pronto a secar o mar que brota da minha alma...
Conheces-me como ninguém, e a ti serei eternamente grata por gostares assim...
A ti, meu melhor amigo, ofereço o que de melhor tenho, o furacão de mim mesma!

O sonho da realidade...

sexta-feira, abril 22, 2005

Início

Sinto-me lavada de mim, de pecados antigos caídos no eterno esquecimento. Absolvida pela benção das chuvas que não caíram...
Acordo para o Tudo, imagino-o, tento agarrá-lo com mãos de criança, as únicas que têm o poder de agarrar os sonhos!
Estou farta de sobreviver no perene hoje, quotidiano nosso.... Basta!
Voltei, decidi-me a voltar, para viver, uma outra e outra vez, no Mundo do Acreditar. Viva a Utopia, viva!
Espero contar convosco, que sempre me acompanharam, que me ajudaram a crescer neste planeta das mil uma cores, a prometer mil e uma eternas noites e outros tantos dias!
Vós continuareis a ser o receptáculo bendito, o Santo Graal, do meu mundo, onde sorverei de um trago o sangue do universo.
Benditos vós meus amigos, bendita providência que vos manteve a meu lado, apesar das distâncias geográficas!
Sereis o meu eterno sustentáculo, pequeno banco onde eu me empoleirarei para espreitar a face escondida da Terra...

quinta-feira, abril 21, 2005

O eterno Eu no Outro...

Sinto-me, sinto-te, não me sinto...
Quero-me, quero-te, não me quero...
Transformo-me, transformo-te, não me transformo...
Desejo-me, desejo-te, não me desejo...
Fujo, foges, não consigo fugir...
Mudo-me, mudas, não me consigo mudar...
Tenho-me, não te tenho, acho que não te/me quero ter...
Porque será que só nos conseguimos rever no olhar exterior? Pior... Porque será que só conseguimos ver o outro como desejaríamos que ele fosse? Muito pior... Porque desejamos que o outro seja apenas e só aquilo que nós desejaríamos ser? Pior de tudo... Porque só vemos o que queremos ver!...

Acto de contrição

Como estás?
Tive saudades tuas, fizeste-me falta na verdade... O que eu imaginei voltar a tocar-te, sentir-te, entrelaçar meus dedos nos teus pêlos do peito... Sabes que já tens alguns brancos, e que ganhaste outros tantos na minha ausência?
Revejo-me no meu passado, ele persegue-me como uma sombra que nunca consigo despir, e olha que eu bem tento, com todas as minhas forças, mas és demasiado persistente, insistente... E eu... Eu sou demasiado fraca, ainda me tremem os joelhos como da primeira vez, quando tive de me apoiar na janela do carro para não cair. Tu não percebeste, eu surpreendi-me com a minha frágil, demasiado frágil, humanidade!
Os teus beijos ainda me marcam a pele, e as tuas mãos, Deus, são demasiado grandes para mim, desejam agarrar tudo, o Mundo, o inatingível... E eu, eu gosto tanto que elas me palpem com sofreguidão, essa mesma que só os mais secretos e eternos amantes conhecem...
Estou a ser demasiado sentimental?
Bem... Talvez não saibas, mas eu sou assim, sempre fui assim, debaixo da carapaça protectora de tartaruga amedrontada, solitária, estou eu, a fingir-me gente grande, invencível, qual Sansão. Mas eu nunca tive tranças...
Quero continuar a procurar-te, a sentir as tuas carícias no meu colo, ruborizando o ebúrneo, sentir a tua transpiração, a tua respiração, o entrelaçar de mãos, corpos nossos e línguas nunca estranhas...
Humores trocados, pecados perdoados!
Procuro-te noutros corpos, não consigo, faltas-me tu!
Que faço? Tenho medo, de sentir, de viver o dia nosso, não me quero iludir mais!
Estou ferida ainda, sinto-me só. E tu? Tu fazes-me falta...

quarta-feira, abril 20, 2005

Lamentação a um futuro já passado

Vivo no meu mundo, situado num país sem esperanças, sem pessoas nos lugares certos, com Pessoas nos lugares errados...
Vivo num país triste à espera de um rei que nunca volta, envolto numa manhã de nevoeiro, como são todas as manhãs do meu povo...
Vivo num país do ontem, que insiste em não fazer passado do futuro, mas ao contrário, teima em viver um futuro cinzento mergulhado num passado que já não volta, e que nunca foi tão dourado como sempre quiseram fazer crer...
Vivo na esperança de que algo aconteça...
Temo que a montanha venha a parir um nado-morto...
Vivo a perguntar-me que foi feito da lusitana praia, do jardim das Hespérides onde os pomos de ouro brilham e prometem a eternidade...
Ulisses que fizeste tu? Olissipo sobrevive e com ela sobreviverei eu, na vã esperança de ser apenas o Velho do Restelo!

terça-feira, abril 19, 2005

De amores e sal

Estou a romper o útero da existência, da minha, da de todos, do mundo.
Pretendo navegar por mares já antes navegados, conhecidos por todos, tocados só pelos pobres de espírito, os tais que entrarão no reino dos céus.
Escreverei o vosso nome na espuma do mar, e a vossa presença lamberá as feridas estampadas nas areias da eternidade... Guardar-vos-ei na minha casca de noz, a tal que comigo ao leme, me guiará nas tormentas dos passados futuros, sereis a minha vela, o vosso espírito o meu mastro!
Pretendo soltar amarras e ir ao encontro do eu primordial para depois entregar em consciência o meu óbolo a Caronte, e dizer-lhe, olhando-o bem nos olhos, que zarpe e me leve o quanto antes, pois eu vivi infinitamente na perenidade do vosso olhar, e isso basta-me. Serei então feliz!

segunda-feira, abril 18, 2005

Adeus amigos meus...

Olho ao espelho e não me reconheço, é-me devolvida uma imagem distorcida de alguém que se parece comigo mas não sou eu, quem será não sei...
Vivo num mundo de aparências, ilusões, feito com imagens distantes, oníricas. A música que se houve não é a apropriada para a ocasião e os rouxinóis definharam todos, repousando em ramos de árvores velhas, carcomidas pelo tempo, corroídas pelos humores libidinosos dos dias que se seguem dolentemente uns aos outros, em fila indiana, sem sonhos, sem perspectivas, sem revolta contra a tirania do universo...
Danço num deserto, com um longo vestido de organza de saia rodada e pintado com as cores do arco-íris. Procuro em vão o principezinho, mas só encontro o nada e teimo em ouvir ao longe o doce sibilar da serpente, a areia escalda e os pés teimam em não avançar, rodopio, rodopio, e rodopio, sobre mim mesma...
Tento confundir-me com a paisagem, ascender ao nirvana, mas só consigo traçar um circulo no chão, e nem mesmos os círculos são perfeitos, nunca são...
Não sei quem sou, não me reconheço e a areia escalda.
Como uma cobra, estou a mudar a pele, sinto-o...
Não sei para onde vou, não sei onde fico. Será ainda rubro o meu sangue, ou aquilo que me corre nas veias é já o doce veneno que teima em me acariciar a pele, pedindo insistentemente transformações?
Carta de tarot, a morte, o renascimento, a ruptura, o (re)começo.
Não sei onde estou, quem fui já não sou mais!
Onde estás tu Fernão Capelo Gaivota?!?

A verdade suprema

"... porque é certo que escrevemos para que nos amem mais"
Alfredo Bryce Echenique