segunda-feira, abril 18, 2005

Adeus amigos meus...

Olho ao espelho e não me reconheço, é-me devolvida uma imagem distorcida de alguém que se parece comigo mas não sou eu, quem será não sei...
Vivo num mundo de aparências, ilusões, feito com imagens distantes, oníricas. A música que se houve não é a apropriada para a ocasião e os rouxinóis definharam todos, repousando em ramos de árvores velhas, carcomidas pelo tempo, corroídas pelos humores libidinosos dos dias que se seguem dolentemente uns aos outros, em fila indiana, sem sonhos, sem perspectivas, sem revolta contra a tirania do universo...
Danço num deserto, com um longo vestido de organza de saia rodada e pintado com as cores do arco-íris. Procuro em vão o principezinho, mas só encontro o nada e teimo em ouvir ao longe o doce sibilar da serpente, a areia escalda e os pés teimam em não avançar, rodopio, rodopio, e rodopio, sobre mim mesma...
Tento confundir-me com a paisagem, ascender ao nirvana, mas só consigo traçar um circulo no chão, e nem mesmos os círculos são perfeitos, nunca são...
Não sei quem sou, não me reconheço e a areia escalda.
Como uma cobra, estou a mudar a pele, sinto-o...
Não sei para onde vou, não sei onde fico. Será ainda rubro o meu sangue, ou aquilo que me corre nas veias é já o doce veneno que teima em me acariciar a pele, pedindo insistentemente transformações?
Carta de tarot, a morte, o renascimento, a ruptura, o (re)começo.
Não sei onde estou, quem fui já não sou mais!
Onde estás tu Fernão Capelo Gaivota?!?

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