quarta-feira, maio 11, 2005

4,5 milhões de anos

Envolveram-se!
E pronto, é isto, nada mais há a dizer, não se sabe bem como, mas envolveram-se!
Na verdade pode ter sido culpa do frio da noite, do sítio escolhido ao acaso, do próprio acaso, ou simplesmente daquele sítio que se aloja algures no estômago, e que nunca se consegue preencher, nem sequer com as toneladas de chocolate que as mulheres costumam ingerir para afastar as doses maciças de ansiedade provocadas pela carência afectiva...
Isto é engraçado, o cérebro é que se apaixona, é que sente a falta, e depois é o estômago que paga as favas. E... Lá vêm outra vez as culpas, pelo ingerido, pelo não ingerido, pelo falado, pelo convenientemente esquecido, pelo feito, pelo não feito, mas sobretudo pelo sentido!
Bem, tudo isto e muito mais vem à cabeça, quando os olhos se dão conta de estarem a olhar para um tecto que não é o seu...
Merda! Que vontade de acender um cigarro, mesmo ali naquela cama alheia, não fosse o caso de ser não fumadora... Uma pessoa não é de ferro, e é nestas alturas que nos assaltam os apetites estranhos de segurar algo entre o dedos e sorver um aroma nunca antes experimentado!
Para o diabo tudo, o universo que caia mesmo no centro do cocuruto da cabeça!
E este sol, este maldito sol que teima em cegar, jorrando copiosamente pelas portadas da janela...
Segunda tentativa para acordar; primeiro: - reconhecimento do local; segundo: - reconstituição dos factos...
Hum... Como se chegou a este ponto do mapa, não interessa, agora, a noite nesta cama faz pensar, até porque dormir não foi uma condição, isto é, foi, mas só depois de muito exercício.
O chuveiro canta... A noite foi boa, não se pode mentir!
A pele acordou os sentidos, mesmo à flor da pele, os pêlos eriçaram-se, e aqueles lábios húmidos, muito carnudos, a traçar o mapa geográfico do corpo... As mãos tocam tudo, apalpam, apertam, espremem, beliscam... Os mamilos parecem mísseis, de tão erectos teimam em apontar um norte inexistente...
O norte já foi perdido e nunca reclamado!
As pontas dos dedos tintilam o clitóris, os lábios fazem-no melhor ainda, mordiscam levemente, chupam, sugam, esfregam... Calor húmido, tempestade afrodisíaca na cama, lençóis pelo chão, sexos contraídos, descontraídos, unidos num amplexo pleno, desunidos para dar lugar aos beiços... Esquecimento de si, do outro, do mundo! Excitação ao rubro! Supremo!
Hoje? Hoje é um novo dia! Depois de silenciosamente vestida e calçada, sai para a rua e recebe a enchente de transeuntes matutinos a plenos pulmões.
Voltar para repetir? Não sabe, sente apenas que é mulher, pressente, deseja, guarda dentro de si os quatro milhões e meio de anos de existência, de fêmea...
Está viva!

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