domingo, outubro 16, 2005

Carta aberta a um Vírus

Exm Senhor, para que nos entendamos de uma vez para a eternidade, e brindo em honra da nossa palavra ad eternum jamais trocada, venho-lhe por este meio tentar esclarecer algumas ideias que pairam pela sua excelentíssima testa, com ares de suprema arrogância...
Antes de mais devo-lhe adiantar que um dos valores que mais prezo é a honestidade e que detesto padecer do mal do santo espírito de orelha, tanto quanto de males infligidos por auto-suposições devidas à falta de esclarecimento honesto à priori!
Dito isto, passo a informá-lo de que sou extremamente insegura, aliás orgulho-me de padecer daquela insegurança típica dos amantes, que lhes permite investir cada vez mais no ser amado, abjurando o erro de o ter como um dado adquirido e sempre presente.
Porém, jamais, alguém me pôde acusar de ter tido um comportamento próximo de uma crise de ciúmes, pelo simples facto de nunca ter sujeitado ninguém, inclusive a minha própria pessoa, a tamanha experiência. Caso, alguma vez, tenha dado essa impressão, pense bem e reflicta na possibilidade de tal comportamento, que descrevo apenas como uma mostra de olímpico desprezo contra unicamente uma das pessoas presentes, o Senhor, se dever a atitudes tomadas anteriormente por si próprio (ou acaso pensa que comportamentos de desonestidade, falta propositada de dialogo ou comunicação, ausência física intencional, e violência psicológica e emocional, não são argumentos bastantes para justificar tal atitude perpetrada pela outra parte?). Mais, se acaso houve embaraço dos presentes, acredite, o mesmo se deveu ao facto de o Sr. ter tido um comportamento para comigo que ninguém estava à espera, inclusive eu própria (para que saiba dois beijinhos no rosto, além de serem amistosos, também podem ser um acto de humilhação e toda a gente fica incomodada com o facto, não só os personagens envolvidos no dito beijo. Esperava-se no mínimo um beijo nos lábios, e três pessoas ficaram atónitas pelo não ocorrido).
Como vê, tudo menos ciúme, infelizmente a explicação é bem menos prosaica!
Mas, mais lhe venho esclarecer: - que eu mereço quem me ame perdidamente pelo que sou e que se sinta apaixonado agora e sempre, mesmo sabendo que o sentimento pode mudar de intensidade, mas jamais de intencionalidade! Mereço alguém que se sinta confortável, e até mais do que bem, comigo, gosto de ser porto de abrigo, amante (de preferência muitas e boas vezes), companheira e melhor amiga.
Gosto acima de tudo, de alguém que tenha tempo também para mim, e que faça gala nisso e não o contrário!
Quase a terminar, e fazendo algo que jamais fiz e que detesto fazer, vou pela primeira vez comparar dois Ms. Ao contrário do que imagina o M com que tanto se sente incomodado não foi o meu grande amor, fui um amor grande com começo e fim, bom, que me realizou enquanto mulher, mostrando-me o meu real valor, já o outro, o tal grande amor foi protagonizado pela ideia que eu tinha de si e que perdurou erroneamente por oito longos anos. Infelizmente, confesso, não o amei de forma tão pura e magnânime, esse foi o amor que eu dediquei à bela imagem que tinha de si (o reflexo perfeito do narciso)!
Tinha completa razão quando se considerou o vírus da minha vida, é-o! Mais, é um vírus terminal que eu alimentei primorosamente, culpa minha...
Mas como doença terminal que é, acaba por matar o hospedeiro, e neste caso não sou eu, mas sim o sentimento sofrido que eu nutria por si! Devo ainda confessar que me sinto muito triste, pelo que poderia ter sido e não foi e pela enfim morte do sentir, mas sobretudo sinto um grande alívio porque o doente terminal, que eu tão amorosamente acompanhei, finalmente morreu, o sofrimento terminou, está em paz!
Caro Senhor, ser humano, instigo-o a discordar de todo este meu lamento, caso ache que de alguma forma se sentiu injuriado ou injustiçado, para esse efeito encontram-se à sua disposição diversos meios de se manifestar, o telemóvel é um deles, caso não se encontre perdido...
Pela minha parte, nada mais tenho a acrescentar!

1 comentário:

Anónimo disse...

Ena pá, minha querida amiga! Será que é mesmo verdade? Acabaste mesmo com aquele que foi o maior amor da tua vida? Conseguiste finalmente cortar o cordão umbilical que sempre te ligou a ele mesmo quando amavas outros? Temos que nos encontrar para me contares tudo, tudo mesmo!

O teu melhor amigo (sem modéstia) JT