Pedro,
Como deves ter reparado tenho estado muito caladinha em relação a esta questão, não que não me importe, muito pelo contrário - se bem te lembras no último referendo envolvi-me e com muito orgulho -, mas porque simplesmente não tenho tido oportunidade pessoal para o fazer.
Já que envias esta resposta/contra-resposta, não sei se de forma provocatória, sinto-me totalmente no direito de as comentar - porque penso que muitos dos argumentos que se têm esgrimido de parte a parte não abonam em defesa de uma discussão responsável do problema - :
1. O que está em causa neste referendo não são as questões morais de cada um, ou a defesa ou não do aborto (que isso a cada um compete julgar da sua vida e das suas opções), mas tão simplesmente a DESPENALIZAÇÂO do acto. Isto é, o que se pergunta é tão somente se devemos ou não continuar a criminalizar as mulheres por terem optado por interromper a sua gravidez.
Neste caso ainda argumento que, caso o NÃO vença, teremos de arcar com as consequências de mandar não só mulheres para a prisão, como também os seus companheiros e todos quantos estiveram envolvidos no acto (e neste caso contam-se muitos médicos).
Pessoalmente, acredito que as leis vigentes e maioritariamente consensuais devem ser cumpridas apesar de qualquer atenuante que possa existir!
2. Independentemente do teu quadro de valores, o aborto continuará a ser praticado (como sempre o tem sido desde tempos imemoriais) e a sociedade continuará a fingir que não sabe, que não aconteceu. Mesmo em condições ideais, muitas mulheres e alguns companheiros optarão sempre por esta solução, ainda que com uma grande dor de alma e de ânimo muito pesado. Nesta situação a solução será sempre uma de duas: - ou se tem dinheiro e vai-se a um outro qualquer país; ou não se tem dinheiro e confia-se em pessoas sem escrúpulos e condições para o fazer. Na última opção encontram-se os mais desprotegidos, nem sempre os mais pobres, muitas vezes os mais jovens, inexperientes e com dilemas emocionais tremendos.
Em qualquer dos casos os mais directamente envolvidos sofrerão. No pior dos casos, mulheres continuarão a ser vítimas de falsos técnicos e pagarão com a saúde ou a própria vida. Perdemos então todos! Perdemos uma mulher ou, no menos mau dos casos, podemos perder algumas crianças, que essas sim teriam sido muito queridas, porque o risco de esterilidade permanente é muito grande.
3. O serviço nacional de saúde gasta muito mais com as consequências de um aborto mal feito do que gastará em todo o processo, a acrescer ao facto de eventualmente se conseguirem dissuadir mulheres de abortarem, caso estas sejam devidamente acompanhadas.
4. Mais do que uma questão de falsas moralidades este é um facto hodierno de enquadramento penal (por esta razão sempre defendi que deveria ter sido resolvido em plenário e nunca em referendo).
5. Qual a tua legitimidade em impor aos outros e outras o teu quadro de valores, quando está em causa uma questão de saúde pública e onde os únicos verdadeiros lesados são os mais directamente implicados no assunto, i.e., a mulher e o seu eventual companheiro?
Peço-te que reflictas em todos estes pontos e depois e de arranjares pelos menos 3 argumentos contra ou a favor de cada um deles, então optes por um dos lados e votes em consciência.
Como deves ter reparado tenho estado muito caladinha em relação a esta questão, não que não me importe, muito pelo contrário - se bem te lembras no último referendo envolvi-me e com muito orgulho -, mas porque simplesmente não tenho tido oportunidade pessoal para o fazer.
Já que envias esta resposta/contra-resposta, não sei se de forma provocatória, sinto-me totalmente no direito de as comentar - porque penso que muitos dos argumentos que se têm esgrimido de parte a parte não abonam em defesa de uma discussão responsável do problema - :
1. O que está em causa neste referendo não são as questões morais de cada um, ou a defesa ou não do aborto (que isso a cada um compete julgar da sua vida e das suas opções), mas tão simplesmente a DESPENALIZAÇÂO do acto. Isto é, o que se pergunta é tão somente se devemos ou não continuar a criminalizar as mulheres por terem optado por interromper a sua gravidez.
Neste caso ainda argumento que, caso o NÃO vença, teremos de arcar com as consequências de mandar não só mulheres para a prisão, como também os seus companheiros e todos quantos estiveram envolvidos no acto (e neste caso contam-se muitos médicos).
Pessoalmente, acredito que as leis vigentes e maioritariamente consensuais devem ser cumpridas apesar de qualquer atenuante que possa existir!
2. Independentemente do teu quadro de valores, o aborto continuará a ser praticado (como sempre o tem sido desde tempos imemoriais) e a sociedade continuará a fingir que não sabe, que não aconteceu. Mesmo em condições ideais, muitas mulheres e alguns companheiros optarão sempre por esta solução, ainda que com uma grande dor de alma e de ânimo muito pesado. Nesta situação a solução será sempre uma de duas: - ou se tem dinheiro e vai-se a um outro qualquer país; ou não se tem dinheiro e confia-se em pessoas sem escrúpulos e condições para o fazer. Na última opção encontram-se os mais desprotegidos, nem sempre os mais pobres, muitas vezes os mais jovens, inexperientes e com dilemas emocionais tremendos.
Em qualquer dos casos os mais directamente envolvidos sofrerão. No pior dos casos, mulheres continuarão a ser vítimas de falsos técnicos e pagarão com a saúde ou a própria vida. Perdemos então todos! Perdemos uma mulher ou, no menos mau dos casos, podemos perder algumas crianças, que essas sim teriam sido muito queridas, porque o risco de esterilidade permanente é muito grande.
3. O serviço nacional de saúde gasta muito mais com as consequências de um aborto mal feito do que gastará em todo o processo, a acrescer ao facto de eventualmente se conseguirem dissuadir mulheres de abortarem, caso estas sejam devidamente acompanhadas.
4. Mais do que uma questão de falsas moralidades este é um facto hodierno de enquadramento penal (por esta razão sempre defendi que deveria ter sido resolvido em plenário e nunca em referendo).
5. Qual a tua legitimidade em impor aos outros e outras o teu quadro de valores, quando está em causa uma questão de saúde pública e onde os únicos verdadeiros lesados são os mais directamente implicados no assunto, i.e., a mulher e o seu eventual companheiro?
Peço-te que reflictas em todos estes pontos e depois e de arranjares pelos menos 3 argumentos contra ou a favor de cada um deles, então optes por um dos lados e votes em consciência.
Recebe um grande abraço e dá um mega beijo às tuas princesas,
Ruiva
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